A Gênese Institucional da Terceira Edição Típica

 

Em 20 de abril de 2000, quinta-feira santa, o papa São João Paulo II promulgou uma edição renovada do Missal Romano. Na prática trata-se da editio typica tertia do Missale Romanum, em precedência, promulgado a partir do Concílio Vaticano II com o papa São Paulo VI. O missal não é uma simples reimpressio emendata, mas uma nova editio typica com acréscimos, modificações substanciais e melhoras da precedente edição. É um grande trabalho de equipe, enriquecido pela contribuição de várias pessoas e organismos, revelando a força semper reformanda da Igreja.

A nova edição, publicada trinta anos depois da editio typica e mais de vinte cinco anos da editio typica altera, é resultado de um longo processo eclesial e de trabalho da até entãoCongregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, iniciado em 1996. Na verdade, a iniciativa de redigir uma nova edição do Missal foi encorajada na Plenária da Congregação em 1991.

Os Padres concordaram com tal projeto conscientes da necessária atualização do livro litúrgico, depois de alguns anos da última edição. Uma nova edição fazia-se necessária não apenas para acrescentar os novos formulários das Missas, mas também na perspectiva de adequar as normativas canônicas do Código de Direito Canônico, e de consolidar as disposições litúrgicas da Santa Sé posteriores à 1975. Os princípios foram acompanhados pela certeza de que a renovação dos livros litúrgicos deveria responder aos sinais dos tempos e as exigências culturais dos homens.

O papa São João Paulo II, no discurso de abertura da Plenária da“Congregação”, recordou que o Concílio Vaticano II determinou uma nova estação na vida da Igreja e que as reformas produzidas no campo teológico, litúrgico e ritual, respondem às necessidades dos homens do nosso tempo e estimulam a uma reavaliação das imensas riquezas que a nossa Igreja conserva das Tradições e das experiências culturais provenientes de inteiras gerações que foram progressivamente transformadas em cristãs.

A simplificação operada nos ritos nos permite perceber, com mais facilidade, os sinais sensíveis e os gestos, as palavras e as atitudes, sobretudo, as mais relevantes. Tal simplificação serve para nos conduzir para o que a celebração deve ser e assimilar a actuositas liturgicadesenvolvida pelas virtudes teologais.

Na tentativa de esclarecer os equívocos e contribuir com uma correta formação, ajudando o povo de Deus a abandonar as formações paralelas, é preciso esclarecer que a edição atual atende aos critérios de fidelidade absoluta, inclusive, excluindo as melhores de ordem literária da precedente edição que pareciam legítimas. A nova edição respeita tanto a lex supplicandi sacra, venerável e imutável quanto a lex credendi.

Desse modo, falar de uma terceira edição do Missal não significa pensar um “novo” missal, mas tornar o Missal da Igreja Romana ainda mais capaz de oferecer a todo o povo de Deus o nutrimento da fé e da piedade necessário para a santificação dos homens e a glorificação de Deus que deve nascer da ação litúrgica e da vida de todos os fiéis.

O Missal Romano é uma excelente contribuição para uma permanente formação litúrgica e espiritual. A renovação e a formação litúrgica tem como finalidade favorecer a compreensão do verdadeiro sentido das celebrações na Igreja. A ação ritual, com as suas objetividades, põe a comunidade a salvo dos subjetivismos, resultado da prevalência de sensibilidades individuais, e de culturalismos, aquisições acríticas de elementos culturais que nada tem a ver com um processo correto de inculturação (DD 49).

Dessa forma, a grande tarefa da formação sacramental-litúrgica é combinar originalidade da experiência, força da personalidade e especificidade de sentimento com disciplina e obediência ao real. Assim, o Missal é um texto para ser compreendido, estudado e tocado como um instrumento insubstituível de formação espiritual e pedagogia pastoral, necessário tanto para o presidente da celebração, como para toda a assembleia. É um texto para ser rezado e meditado pois ele é a fonte de nutrimento de uma espiritualidade eclesial ativa e permanente.  

Comissão Episcopal para a Liturgia

Referências Bibliográficas

BARBA, M. La genesi istituzionale della terca edizione tipica, in Notitiae 38, 2002, p. 56-62.

GUARDINI, R. Formação litúrgica. São Paulo: Carpintaria, 2023.

KOLLER, F. Relançar a tarefa da formação litúrgica hoje: lendo Desiderio Desideravi a partir da Formação Litúrgica de Guardini. Encontros Teológicos, Florianópolis, v.38, n.1, jan.-abr. 2023, p. 17-43.  

MARQUES, L. A autêntica formação litúrgica, in https://www.asli.com.br/artigos/a-autentica-formacao-liturgica. Acessado em: 02/10/2023.

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